Vivências em medicina de família e comunidade UBSF Marluz - Hingrid Glaeser

Vivências em medicina de família e comunidade
UBSF Marluz

Hingrid Glaeser,
Acadêmica de medicina do primeiro ano, FURG


        Medicina de Família e Comunidade foi aos poucos se tornando mais do que uma opção de especialidade médica para mim, não só porque é uma especialidade linda e também importantíssima para as pessoas, mas também porque era possível para mim ser uma boa médica de família que, era até as minhas vivências no Marluz, uma especialidade simples do ponto de vista de habilidades motoras e de emergências. Mas durante o período de tempo em que eu estive lá eu vi desde visitas domiciliares até pequenas cirurgias e emergências clinicas.
        Quero começar esse relato pela coisa que mais me marcou, para que entenda, caro leitor, eu preciso que você saiba que eu tenho uma deficiência desde o décimo dia de vida e essa deficiência afeta tanto a minha fala quanto a minha coordenação motora e é por isso que eu não quero um ambiente de trabalho emergencial ou cirúrgico, bom na verdade eu queria ser neurocirurgiã, como o meu médico: o Dr. Santos porque eu queria ser igual a ele quando eu crescesse mas esse drama infantil já foi superado porque eu não seria tão egoísta a ponto de colocar a vida de um paciente em risco só para realizar um sonho de criança. Partindo desse ponto, em um dos últimos dias da vivencia eu estava acompanhando a interna Lara Maria, até que entraram no consultório um menino de uns nove anos, com uma deficiência mental, e a sua mãe, a consulta estava indo bem até que o menino olhou para a sua mãe e disse as seguintes palavras: “mãe, ela não fala” isso doeu tanto que eu não consigo descrever mas não pelas palavras e sim pelo que elas significaram para mim: o meu maior medo se concretizando, uma médica que não consegue ser entendida por seus pacientes? Onde já se viu? Entenda, caro leitor, ele não foi a primeira pessoa que falou essa frase, mas foi o primeiro paciente então eu dei a resposta padrão: “olha, eu falo sim, tu tá me ouvindo, não tá?”, da forma mais clara que eu pude. E, graças a Deus a Lara estava lá e me ajudou a sair dessa situação e eu nunca vou poder agradecer o bastante. 

Eu sei que vou ter que aprender a lidar com essas situações sozinha, mas eu tenho tempo... 
        Mas agora vamos as partes felizes, o meu primeiro dia foi dedicado a visitas domiciliares com a professora Patrícia e ver a sua competência e o amor com que ela pratica a medicina é inspirador e contagiante, dá pra notar isso até no comportamento dos pacientes em relação a ela, eu nunca tinha visto uma medicina tão horizontalizada e um exemplo muito claro disso foi um paciente que chegou ao consultório com um furúnculo na região interna da coxa, ele tinha 25 anos, e ai ela disse que tinha pego ele no colo e a relação deles, assim como com a maioria dos seus pacientes era quase familiar, eu não sei como ela faz isso mas a partir daquele momento, eu tinha decidido que quando eu crescesse eu queria ser igual a ela. Em alguns dias, eu também acompanhei a Carolina, a residente da UBSF, e aprendi muito com ela, aprendizados esses que além de me fazerem ser uma futura médica melhor, me fizeram uma pessoa melhor. Com ela, eu tive a oportunidade de conhecer e participar das dinâmicas de um grupo de tabagistas e ver o progresso e os sentimentos daquelas pessoas foi emocionante.
        Vou encerrar por aqui, tiveram muitas outras situações e aprendizados nesses quinze dias, tais como: trabalho em equipe, respeito ao paciente e pela vida. 

Posso dizer que chego ao segundo ano uma pessoa diferente daquela que entrou na faculdade e que essas vivências me ajudaram muito nisso.

Hingrid Glaeser

Comentários

Postagens mais visitadas