Cartas ao Futuro


Se estás a ler está carta, vives em um tempo privilegiado. Podes não saber, mas nem sempre educou-se para libertar, conscientizar e fazer pensar. Houve um tempo em que se ensinava para prender e se aprendia para dominar. Tempos distantes de tua realidade e insanos aos teus olhos, mas que existiram. Tempos de seres humanos mudos, surdos, sem pensamentos e sem espíritos. Tudo o que tínhamos vinha de fora. Tudo estava no futuro. Devíamos estudar para ter uma faculdade, e ter uma faculdade para ter um mestrado, e ter um mestrado para ter um doutorado, e ter um doutorado para enfim o futuro chegar, vazio e sem cor. Era uma vida sem vida, uma busca sem esperança, uma viagem sem destino e a isso chamávamos educar.
Mas os tempos mudaram, eu sei. Peço apenas que não te esqueças que nem sempre foi assim. Peço que se lembre de homens e mulheres que lutaram para que a palavra educação fosse símbolo de mudança e sinônimo de emancipação. Nem sempre educação popular foi considerado um pleonasmo e homens maravilhosos, tal qual Paulo Freire, muito lutaram por isso. Lembre-se de que não houve violência, mas o presente que você vive foi construído a partir de lutas, vividas por pessoas que viam longe e que por isso eram chamados de mentirosos. Lembre-se de que alguns fechavam a porta de escolas e faculdades para que os que nelas estivessem não saíssem, e os que fora ficassem não entrassem. Houve um tempo em que se sabia mais, em que uns ensinavam e outros aprendiam, tempos difíceis, superados por bailarinas e poetas, músicos e artistas, que com humor e alegria transformaram e mudaram universos. Quero pedir que jamais se esqueça das palavras deixadas por eles, das perguntas feitas, das ideias pensadas, das palavras escritas. Quero apenas pedir que aproveite tal educação.
Para ti, que se educa através de experiências, gostaria de deixar um conselho que recebi uma vez de uma bailarina.”Sabes por que as crianças adquirem habilidades mais facilmente do que os adultos? Porque elas não tem preconceitos e isso as liberta das barreiras e vergonhas de errar” . Espero que que acredites em mim, que olhes para o mundo como uma criança e que não se esqueça de que nem sempre isso foi permitido.

Um abraço forte e apertado.

Carta escrita para os estudantes de um futuro não tão distante, cuja realidade são os sonhos de agora.

Luan Menezes

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