A ponte para a (in)sanidade

Quando adentrei em seu quarto, logo ela me avistou e eu sorri. Aquela senhorinha fazia movimentos rápidos com as mãos para que eu me sentasse ao seu lado, como alguém que tivesse sede de contato com o mundo lá fora, e eu fosse a encarregada de fazer essa ponte. Dona Z. estava extasiada com a minha presença. Pegava em minhas mãos e dizia que iria esquentá-las, que eu não podia ficar com elas geladas daquele jeito. O cuidado vindo de uma pessoa que precisaria deste me emocionou. Ela não tinha noção de espaço e nem sequer de tempo. Frases repetidas sobre um acidente que sofreu no trabalho me mostravam em seus olhos uma profunda decepção vivida, mas que agora ela projetara no presente, como se tudo acabasse de ocorrer. Falava muito e as poucas frases que eu proferia não serviam de nada para ela, pois d. Z. continuava seu raciocínio ilógico de acontecimentos, me contando dos filhos, da atual colega de quarto da qual não gostava muito e de sua dor nas costelas que a impedia de andar, supostamente causada pelo acidente que sofrera. Gostou tanto de mim que decidiu me presentear com um dos sabonetes que ela talvez colecionasse, e eu sem saber se poderia ou não aceitar aquele regalo, fiquei parada. Ela insistiu que eu ficasse com ele, colocando o seu singelo presente em minhas mãos. O relógio marcando quase seis da tarde era latente e eu era a última do grupo a me despedir. A senhora que antes não andava, agora se levantava e me seguia até a porta para me dar um adeus. Me deu um beijo gostoso, daqueles carinhosos e inocentes, de que mesmo sem saber quem eu era, sabia que eu voltaria. Eduarda Cecilia Pinguello

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