Histórias perdidas num mar de ideias

Aquelas linhas sinuosas que preenchem e percorrem seu rosto me distraem enquanto conversamos, parecem estradas, caminhos que nos levarão a algum lugar. Estas linhas são as rugas, linhas de expressão, marcas do tempo, que nos mostram e abrigam, em todas suas curvas e depressões, as histórias, aquelas boas de contar e ouvir, que nos fazem rir ou chorar e que no passado fizeram aquela senhora rir ou chorar. Vejo no fundo daqueles olhinhos pequenos e embaçados, lacrimejantes sempre, a inocência de uma criança, o ímpeto de uma adolescente e a força de uma mulher. Hoje estes olhos mostram como o tempo passou subitamente, como diria Helena Kolody, "sem aviso, o vento vira uma página da vida", nos surpreende, nos assusta e talvez nos apavora. Seus cabelos já escassos e brancos mostram ainda que um dia foram loiros. Fios que devem ter iluminado muitas manhãs e tardes, estonteantes. Quando percebo e volto a fixar minha atenção em nossa conversa, olho pra ela e fico cada vez mais instigada a descobrir suas histórias, suas decepções e suas alegrias, mesmo que estas estejam bagunçadas e perdidas em suas palavras, ideias e recordações escassas, dispersas naquele grande e complexo universo que é a mente de uma idosa. Eduarda Cecilia Pinguello

Comentários

Postagens mais visitadas