"Realizei o estágio de vivência em
saúde da família e comunidade entre os dias 10 e 21 de Dezembro de 2018, no
Bairro Cidade de Águeda. Durante este período, pude entrar em contato com várias
das atividades propostas pela Unidade Básica de Saúde da Família, com o
dia-a-dia dos trabalhadores da unidade e descobrir não apenas o funcionamento
de uma UBSF, mas também a importância que este serviço tem para sua comunidade.
Desde o primeiro dia, comecei a
atender pacientes no acolhimento, o que se revelou uma agradável surpresa, já
que a cadeira de Clínica Médica, que concluí esse ano, não me preparou para as
demandas que encontrei ali. Tive a oportunidade de receber pacientes cujas
queixas eram as mais variadas e que, por não serem consultas pré-marcadas,
envolviam condutas que nunca tinha visto serem prescritas, mesmo após um ano de
clínica -como receitas de antibióticos, encaminhamentos para a emergência de
hospitais, testes rápidos de HIV, sífilis, hepatites.
Mesmo com uma grande demanda de
acolhimentos, a UBSF permitiu que acompanhássemos grupos especiais em que médicos, agentes comunitários, profissionais da enfermagem e de outras áreas
aconselhavam e realizavam dinâmicas com o objetivo de orientar gestantes, pessoas com
diabetes, hipertensão arterial. Foi através de experiências
assim que pude ver que a saúde não é promovida apenas dentro de um consultório
ou de um hospital. Membros da comunidade recebiam conselhos sobre alimentação
saudável, prática de atividades físicas e podiam compartilhar suas dúvidas com
profissionais da saúde e outras pessoas em condições parecidas.
A imersão no cotidiano da unidade
trouxe, além das experiências profissionais, a oportunidade de entrar em
contato pessoal com todos que estão envolvidos no serviço. Pude fazer amizade
com todos os trabalhadores -tanto da área da saúde, como da limpeza, segurança,
recepção-, conhecendo suas responsabilidades e a importância que eles tem para
o funcionamento de uma UBSF. Em mais de um momento, eles sentaram para
conversar conosco (estagiários da Vivência) e compartilharam seus pensamentos e
pontos de vista sobre o que acontece diariamente no posto.
Para
mim, a experiência mais enriquecedora foi acompanhar o encontro do NASF (Núcleo
de Apoio à Saúde da Família). Nas duas reuniões que acompanhamos, foram
discutidos casos de pessoas da comunidade com necessidades que vão além daquelas
que podem ser supridas pela ação do médico e da enfermagem, como problemas
nutricionais, psicológicos, psiquiátricos, recuperação física e fragilidade
social. Esse núcleo me fez perceber o tamanho do impacto que a atenção primária
pode ter dentro do sistema de saúde e a importância da presença de diversas
áreas nesse apoio à saúde da família, contribuindo para diminuir o número de
usuários que buscam hospitais e poderiam ter suas demandas resolvidas por esses
profissionais.
Durante o período do estágio,
tivemos apenas 1 oportunidade de fazer a visita domiciliar -devido à chuva-, mesmo
assim, a experiência foi muito interessante. Não apenas pela relevância dessa
atividade na vida de pessoas impossibilitadas de se deslocar até o posto de
saúde, mas pela oportunidade de ver como o serviço desse posto pode ser levado
até a pessoa. Acompanhamos a médica e a técnica de enfermagem da unidade
atenderem um senhor que teve um acidente vascular encefálico, há alguns anos, e
agora pode ter tido outro, pelo que foi descrito por seus familiares.
Auxiliamos na investigação e no pedido de exames para identificar o motivo das
queixas.
Os maiores aprendizados, com
certeza, não foram em relação a como ser um médico melhor, mas sim, a como ser um
ser humano melhor. Ter contato com as pessoas, de um lado e, de outro, com um
serviço tão humano e verdadeiro como o da atenção básica de saúde me permitiu
compreender melhor as complexidades dessa relação que existe entre o paciente e
o serviço de saúde. Pude compreender as dificuldades que os profissionais, não
apenas os médicos, encontram ao cumprir suas funções dentro de um sistema que
parece, às vezes, esquecê-los. E também pude perceber melhor a realidade
de uma população que, se não recebesse a assistência de uma UBSF, como a da
Cidade de Águeda, estaria à margem da sociedade e, no fim das contas, ajudaria
a lotar os corredores de hospitais com problemas que poderiam ter sido evitados
antes de se instalarem.
Minha conclusão é que o estágio de Vivências
é uma forma muito eficiente de permitir que o estudante se aprofunde no
conhecimento, tanto do sistema de saúde, como das pessoas e profissionais que
fazem parte deste sistema. Algo que as cadeiras da faculdade, em sua maioria,
falham em trazer para o aluno, mas que é de extrema importância para sua
formação."
Marcelo Bertoli é acadêmico do curso de medicina da FURG, em Rio Grande/RS, e participou das vivências em MFC da LES em Dezembro de 2018. Além de colecionar quadrinhos, nas horas vagas ele gosta de jogar RPG e assistir filmes de terror. Uma vez ao ano, Marcelo é jogador de futebol.
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